sábado, 4 de outubro de 2008

quem educa os nossos filhos?

A Psicologia autonomiza-se enquanto Ciência aproximadamente nos anos 30 do século XX e viria a arrazoar, nalguns dos seus ramos, acerca das etapas de desenvolvimento do ser humano nomeadamente, e com especial incidência, na criança. Este estudo do desenvolvimento da criança, juntamente com a Pedagogia, vem dar subsídios, e ao mesmo tempo colocar mais pressão sobre a família, para a protecção e compreensão das singularidades desta fase do desenvolvimento humano. Desde então a Psicologia, e também a Pedagogia, têm funcionado como “bússolas” da classe média dos países desenvolvidos no que concerne à socialização e ao investimento afectivo nas crianças. A super-protecção das crianças, actualmente, resulta de avanços científicos sucessivos nestas áreas e de uma apropriação de conceitos que nem sempre estão ligados com as realidades concretas vividas pelas crianças, respectivas famílias e sociedades.

As múltiplas funções da parentalidade na sociedade actual são fruto de uma pressão social que, não só diminui a natalidade devido à precarização dos vínculos, flexibilização dos horários laborais, descriminação da mulher grávida e trabalhadora, etc., mas que também promove uma discriminação social daquilo que se esperam ser as tarefas parentais bem sucedidas. A criança que é, a título de exemplo, “má aluna” é vista socialmente como sendo o resultado de uma má estratégia de parentalidade. A Psicologia, uma vez mais e qual eminência parda, aparece aos pais de classe média (as classes altas possuem outros recursos) como solução de todos os males, definidora de todos os comportamentos e niveladora dos padrões, e valores, que os pais julgam ser de excelência e que certamente são dominantes. Ainda de referir que as classes baixas são também elas actualmente pressionadas para terem padrões de parentalidade semelhantes aos da classe média e de que, também nelas se incute a noção de que a educação das crianças tem uma fórmula universal de sucesso.

A Psicologia e a Pedagogia não podem ser, em si, os bodes expiatórios desta actual super-protecção das crianças. São Ciências que influenciam precisamente a sociedade por não serem herméticas. Foi o acto fundador de “marketing” que visava a sua afirmação na sociedade e nos meios académicos e o seu objecto de estudo, que as levou a ser tão populares e utilizadas em muitos aspectos da nossa vida em sociedade. Foram, e são, usadas no sistema de produção capitalista para reproduzir os padrões culturais dominantes que interessam às classes dominantes (detentoras do capital e dos meios de produção). Usadas na publicidade, nos currículos escolares, difundidas pelos media e apresentadas como virtuosas solucionadoras dos problemas são instrumentos de pressão sobre a família e controlo social.

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